sexta-feira, 30 de outubro de 2009

HISTÓRIA DOS SURDOS...

A partir do filme “O menino selvagem” e da leitura do texto “O menino selvagem” parei para analisar a proposta de trabalho de Jean Itard com o menino Victor e fazer uma breve comparação da história deste com a dos surdos.
O menino Victor viveu 6/7 anos na floresta, isolamento total, excluído da sociedade, visto como sujeito estranho, motivo de curiosidade, considerado idiota, imbecil, assim como os surdos ou aqueles que apresentavam alguma debilitação.
Itard e seus colegas confiavam que Victor havia sido deixado na mata para morrer, fato que se assemelha a história dos surdos, pois nessa houve um tempo em que as crianças que apresentavam debilitações também eram deixadas a beira da estrada para morrer.
No entanto, Itard acreditava que apesar da privação do contato social, o menino poderia ser reeducado, mas que para isso seria necessária uma metodologia adequada, no momento, desconhecida por ele que então, optou por constituir estratégias que desenvolvesse os sentidos, audição, visão, tato, olfato e paladar, estimulando Victor a falar, ler, escrever, etc.
Este fato também pode ser relacionada/comparado com a história dos surdos, uma vez que um educador pode, sem ter o domínio da LIBRAS, receber um aluno surdo em sua sala de aula e então ter que criar estratégias para esse convívio.
Na história dos surdos percebemos que normalmente as pessoas tendem a trazer o surdo para sua cultura, para seu mundo, para sua visão, sua realidade em vez do inverso.
Deste modo, acredito eu, que o método utilizado por Itard, consistia em trazer o menino Victor para sua cultura, e não ao contrário, não valorizava os conhecimentos do menino, moldando e tornando-o ouvinte, passivo.
Isto é, fazia uso da pedagogia empirista - diretiva-, na qual o professor fala e o aluno escuta; o professor decidi o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o aluno aprende; o professor acredita que o conhecimento pode ser transmitido; o professor vê seu aluno como uma tábua rasa, onde deposita-se todas as informações que julga necessárias para o aluno como se deposita dinheiro em um banco (prática pedagógica denominada por Freire como “educação bancária”); o progresso intelectual é atribuído à pressão do meio exterior.
Logo, podemos dizer que Itard não se dava conta de que o menino, mesmo tendo vivido tanto tempo isolado, possuía alguns conhecimentos e curiosidades e praticamente despejava em cima do garoto um mundo de informações com tempo determinado para assimilação, realizada através da imitação, da imposição, e atribuía recompensa-castigo ao resultado dessa apropriação.
Porém, a educação, segundo os autores Jorge Gonçalves e Maria Alexandra Peixoto, “é um processo que se inicia quando nascemos” e acontece de várias maneiras e em vários lugares, ou seja, “são as regras, os valores e as crenças (por exemplo: o horário, o sentido de justiça ou a religião) que são transmitidas à criança”, não tem hora e local determinado.
Deste modo, os resultados que Itard obteve foram atos mecanizados, sem compreensão e não uma educação baseada na valorização da experiência/realidade do educando, na interação (professor X aluno X mundo), método ativo, no qual o educando é sujeito ativo obtendo responsabilidades na construção de seu próprio conhecimento, desencadeando assim o desenvolvimento da autonomia.
Portanto, destaco aqui, baseado no descrito a cima, que nós educadores, devemos apreciar cada um de nossos alunos com suas particularidades, estimular, confiar, fazer uso de ações interculturais, enxergá-los como sujeito capacitado, valorizando as diversas culturas/costumes.

Um comentário:

Rosângela disse...

Oi Catiane,

Tua reflexão evidencia relações muito interessantes e bem fundamentadas, articulando as ações do sujeito (no caso, Itard)aos princípios que governam tais ações (empirista-diretiva). Além disso, relacionas as situações do filme com as situações de sala de aula.

Parabéns pela tua reflexão!
Beijos, Rô Leffa